Pais morrem cedo demais, alguns filhos nem chegam a vir ao mundo, amores não são correspondidos, pessoas que admiramos nos decepcionam mesmo que não queiram, nossa saúde pode ser abalada mesmo se resolvermos morar em uma bolha..."shit happens" e nem sempre há o que fazer quanto a isso.
Destino, carma, ciclo da vida...não importa o nome que usamos para definir aquilo que independe da nossa vontade. A verdade é que a dor também ensina...é com ela que descobrimos o tamanho da nossa força e se lutamos, se estamos dispostos a vencer o obstáculo, ao invés de optar pela fuga, ficamos ainda mais fortes depois desses acontecimentos.
Entretanto, com essa força extra podemos endurecer um pouco, tentar matar sentimentos, ser menos humanos, menos vulneráveis, para que as coisas exteriores não nos firam tanto...alguns constroem muros de frieza e indiferença para que ninguém mais possa se aproximar, mas ainda sentem-se sozinhos e inseguros por trás de suas muralhas.
É quase de conhecimento global a frase do revolucionário Che Guevara que dizia, em tradução livre, "é preciso endurecer, mas sem jamais perder a ternura". Ao dizer essas palavras, Che falava de suas revoluções, da liberdade que procurava conquistar em suas lutas. Porém, se pararmos pra pensar, todos estamos em constantes lutas dentro de nós mesmos, e mesmo que não estejamos determinados a guerrear pela igualdade de todos, estamos sempre brigando pra não nos sentirmos tão pequenos diante das coisas inevitáveis da vida.
Quem batalha e sobrevive sempre fica mais forte...mais ferido, talvez, mas com certeza conhecerá novos golpes e saberá defender-se deles no futuro. Só o que nunca podemos esquecer é de não deixarmos quem somos pra trás. Não desistirmos de nossas crenças porque algo não deu certo uma vez ou duas...não perdermos a capacidade de amar, de confiar, de conviver..de seguir em frente.
A vida sabe ser cruel às vezes, em alguns momentos temos a sensação que não existe mais nenhuma chance das coisas melhorarem. Parece que acontecimentos negativos não sabem vir em pequenas doses, existem fases da vida que são tristeza, atrás de tristeza, de nervosismos e total incapacidade....e mesmo que não pareça mais fazer diferença, continuamos vivendo...e devemos continuar.
São em dias como este, que podem se estender por meses e até anos, que aprendemos o sentido de "endurecer". São nessas lágrimas que estão as lições mais importantes que podemos ter...a lição que nos diz que não podemos ter tudo o que queremos, que nos diz que não controlamos o mundo, muito menos as outras pessoas.
E aí, podemos optar em ser controlados por toda essa raiva e mágoa e nos desligar de tudo, resolver odiar a humanidade e culpar a cada um pelo nosso sofrimento. Alguns até se vingam, como se a própria dor pudesse ser anulada pela dor do outro.
Ou então, podemos ser mais resistentes, não nos iludirmos com tanta facilidade, podemos entender que toda a vida tem um fim, mas que todo o sofrimento também pode ter. Podemos continuar acreditando no amor, podemos tentar ter outro filho ou entender que o amor sobrevive mesmo após a morte...Enfim, podemos, e devemos, ser mais duros com a vida, mas sem nunca perder a doçura de termos sentimentos, de sermos felizes e lutarmos por aquilo que nossos corações um dia acreditaram. Porque talvez o Sol resolva brilhar de novo em nossas vidas amanhã...